O ciclo recente de crescimento chinês e seus desafios

A China, como de resto toda a economia mundial, foi intensamente abalada pela crise financeira americana de 2008. Em resposta adotou um elevado programa de gasto público superior a meio trilhão de dólares, centrados em investimentos em infra-estrutura. Como resultado, após uma desaceleração em sua trajetória de crescimento no primeiro trimestre de 2009, retomou um ritmo maior no último trimestre recuperando sua trajetória de alto crescimento e situando-se acima da meta prevista de 7,5% para o período de 2006 a 2010 estabelecida no 11o Plano Qüinqüenal.

Muito se especula sobre a sustentação deste crescimento no atual contexto internacional e sobre as possíveis transformações neste padrão e seus impactos na economia mundial. Com efeito, no âmbito do governo e do Partido Comunista, tem sido crescente a disputa sobre o uso apropriado destes recursos públicos. De um lado, se posicionam os defensores da agenda liberalizante e de continuidade do padrão de crescimento atribuído às exportações e investimentos externos; de outro, diversos críticos do modelo chinês, tanto aqueles críticos do export led quanto os que atribuem a concentração da renda observada nos últimos anos à uma estratégia de investimento centrada em setores intensivos em capital.

No plano externo, a linha seguida pelo Ministério de Comércio dos EUA atribui ao crescimento do saldo chinês ao seu mercantilismo e, sobretudo, à política de manipulação cambial. A crise americana teria acirrado esta linha na defesa dos empregos americanos. Entre especialistas internacionais vinculados ou não a organismos multilaterais, tornou-se senso comum a observação de que a crise mundial teria apontado para a fragilidade de um sistema internacional baseado no excesso de consumo americano e de poupança chinesa. A política do Banco Central da China de concentrar suas reservas em dólares tem sido objeto de críticas, reforçando os argumentos sobre a necessidade de uma mudança na estratégia do crescimento chinês.

Tendo em vista estas questões, objetiva-se neste texto examinar brevemente o padrão de crescimento chinês recente e discutir as transformações ora em curso assinalando os desafios que a trajetória expansiva chinesa enfrenta no plano interno e, sobretudo, em relação aos laços econômicos com os EUA. Além desta introdução o texto está divido em cinco seções. Na primeira seção, discutem-se algumas interpretações sobre o crescimento recente na China, na segunda identificam-se alguns de seus problemas analíticos e empíricos, na terceira e quarta descrevem-se as características do ciclo recente, apontando, respectivamente, os seus principais conflitos internos e externos, na quinta são apresentadas algumas observações conclusivas.

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