As Interações Micro e Macroeconômicas em um Modelo Kaldoriano-Evolucionário de Simulação do Crescimento Econômico e da Competitividade Internacional

A construção de modelos macroeconômicos está apoiada no pressuposto da existência de um padrão único de comportamento dos agentes econômicos que delineiam cada agregado macroeconômico. O modelo apresentado neste artigo não foge a regra. No entanto, a adoção desse pressuposto não é aplicada a todas as equações do modelo. O princípio evolucionário da diversidade dos padrões de mudança tecnológica e de concorrência no âmbito da indústria é introduzido neste modelo, o que implica a adoção de um conjunto de distintas equações de competitividade, cada uma delas referente a um grupo setorial específico.

As equações relativas aos determinantes dos gastos de consumo e de investimento que serão utilizadas no modelo de simulação foram elaboradas dentro dos preceitos da abordagem kaldoriana, sendo, portanto, compatíveis com o pressuposto descrito acima. As equações de exportação e de importação, por sua vez, seguem o princípio evolucionário da diversidade. De acordo com a abordagem evolucionária, a diversidade em termos dos determinantes do nível de competitividade de cada indústria ou setor produtivo é reflexo da diversidade dos regimes de acumulação tecnológica que prevalece dentro de cada ramo da atividade produtiva.

O ponto central desta pesquisa reside, portanto, nas análises teóricas que permitem associar o conceito de regime tecnológico aos fatores de seleção das indústrias nacionais no mercado externo. A seção 2 foi elaborada para este fim. A estrutura matemática do modelo de simulação, que será apresentada na seção 3, pode ser resumida nos seguintes aspectos: pelo conceito de regime tecnológico, serão formados quatro grupos setoriais. Esses grupos estão ligados entre si pelos coeficientes técnicos da produção e cada um deles apresenta especificidades em termos dos fatores determinantes do nível de competitividade. Com isso, as análises das interações micro e macroeconômicas associadas à competitividade externa e ao crescimento econômico serão realizadas tendo por base um modelo de simulação do tipo insumo-produto, em que os gastos de consumo e de investimento são endogenamente determinados pelo nível de renda, enquanto as exportações e as importações ficam submetidas às mudanças do nível de renda externa e interna, respectivamente, e ao nível de competitividade da indústria nacional, cujo market share é regido pelo princípio de Fisher (replicator equation).

Para que essas análises tenham alguma relevância teórica e empírica, os valores da maior parte dos parâmetros e das variáveis exógenas do modelo, assim como os valores iniciais de suas variáveis endógenas, foram atribuídos de acordo com as estatísticas oficiais referentes à economia brasileira de 2003. Não obstante, este modelo apresenta algumas lacunas – entre elas a ausência da dinâmica de preços internos e do câmbio – que limitam sua aplicação na reprodução das trajetórias evolutivas da economia brasileira nas últimas décadas.

A relevância deste modelo está na demonstração de que a macrodinâmica dos modelos que levam em conta as especificidades setoriais em termos dos determinantes do desempenho tecnológico e da competitividade industrial produz insights teóricos e empíricos sobre as interações micro e macroeconômicas que dificilmente seriam extraídos dos modelos de crescimento econômico que empregam exclusivamente as funções agregativas, inclusive os da abordagem kaldoriana. Este modelo fornece também insights teóricos relevantes no que diz respeitos aos princípios normativos das políticas industrial, tecnológica e macroeconômica ligadas à promoção do crescimento econômico via competitividade externa. No caso específico do modelo apresentado neste artigo, ficou constatado que as propriedades e as trajetórias macroeconômicas do modelo podem alterar-se conforme as mudanças observadas nas variáveis exógenas e nos valores iniciais das variáveis endógenas. Este resultado pode ser usado como indicativo de que as políticas públicas que foram bem-sucedidas em termos da promoção do crescimento industrial e da competitividade de um determinado setor, em um determinado período, não serão necessariamente bem sucedidas quando replicadas em outros setores e, ou, outros períodos. Esse é um insight teórico que nem sempre é extraído dos modelos kaldorianos tradicionais.

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