Análise das Interações entre Inovações Tecnológicas, Competitividade Industrial e Crescimento Econômico: Uma abordagem kaldoriana-evolucionária

Mudança tecnológica e competitividade industrial são dois conceitos fundamentais que integram os modelos evolucionários e kaldorianos de crescimento para economias abertas1. Em ambos os modelos são incorporados os efeitos interativos ou a causação circular entre crescimento industrial, inovações tecnológicas e competitividade das exportações. O princípio da demanda efetiva é outro elemento comum entre os dois modelos. Ambos compartilham a afinidade com as abordagens das vantagens construídas ou das capacitações. Enquanto alguns aspectos fundamentais da mudança tecnológica e da competitividade industrial compõem o objeto de análise da abordagem evolucionária, o tratamento mais consistente dos aspectos macroeconômicos das economias abertas é um dos méritos da abordagem kaldoriana.

Com tantas similaridades e complementaridades, fica claro que a integração dessas abordagens representa uma linha de pesquisa mais condizente com a realidade das economias para as quais não se pode negligenciar o papel dinamizador do comércio exterior. Obviamente, essa integração aumenta o grau de complexidade dos modelos de crescimento econômico, os quais deverão tratar simultaneamente da diversidade microeconômica, da causalidade circular e da composição macroeconômica. Por conta dessa complexidade, esses modelos deverão ser do tipo multissetorial, contemplando as conexões intersetoriais que definirão os parâmetros e as interações micro-macroeconômicos do modelo.

Este artigo decorre do esforço de uma pesquisa teórica que tem por objetivo integrar as abordagens evolucionárias e kaldorianas para analisar as relações de causalidade entre inovações tecnológicas, competitividade industrial e crescimento econômico. No presente momento, esse esforço está voltado para o desenvolvimento de um modelo teórico com o qual se pretende analisar os fundamentos normativos das políticas industriais e tecnológicas de promoção do crescimento econômico via comércio exterior. Em vista das complexas relações de determinação que emergem de uma abordagem em que são contempladas a diversidade setorial e a causalidade circular (feedback loop) entre as variáveis micro e macroeconômicas, as inferências empíricas desse modelo requerem uma estrutura de modelagem apropriada à realização dos exercícios e testes de simulação. Contudo, no estágio atual desta pesquisa, ainda não foi possível a realização desses exercícios.

Na ausência de estudos empíricos, todos as seções deste artigo apresentam análises de natureza teórica. A primeira seção é dedicada às análises dos conceitos de competitividade e de inovação. O propósito dessas análises é delimitar o campo da pesquisa em torno das teorias das vantagens construídas ou das capacitações, as quais enfatizam a importância do comércio intra-industrial e o papel das inovações tecnológicas na competitividade externa. Em seguida, faz-se uma análise de um modelo teórico sobre os determinantes dos investimentos em P&D. Supõe-se que esses investimentos representam a principal fonte de aprendizagem geradora dos novos conhecimentos que nutrem a atividade inovativa das firmas. Por meio desse modelo são analisados os fatores específicos da firma, específicos da tecnologia e específicos da indústria, os quais condicionam a atividade inovativa das firmas. Conforme sugere esse modelo, esses fatores criam diferenças interindustriais em termos do papel da inovação na determinação da competitividade industrial. Na última seção faz-se uma análise de um modelo teórico que sintetiza as abordagens evolucionárias e kaldorianas, no qual são contempladas a diversidade industrial em termos de padrões de mudança tecnológica e de competitividade, a interdependência industrial e o papel da restrição externa na determinação do crescimento econômico.

Uma conclusão fundamental extraída desse modelo é que as políticas macroeconômicas, industriais e tecnológicas devem fazer parte de um corpo único de política econômica, devido à forte interdependência entre as estâncias micro e macroeconômicas. O modelo mostra claramente que mudança tecnológica e crescimento econômico são partes inseparáveis do processo de evolução econômica de cada país.

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