A Potência Vulnerável: Padrões de Investimento e Mudança Estrutural da União Soviética a Federação Russa

O objetivo do presente trabalho é apresentar os traços essenciais das principais mudanças nos padrões de investimento e transformação estrutural na economia da Rússia entre 1950 a 2008. Como a antiga União Soviética era inteiramente centrada na Rússia, optamos por discutir os padrões de investimento e transformação estrutural na economia centralmente planificada da União Soviética como um todo no período de 1950 até a sua dissolução em fins de 1991 e da economia (crescentemente) capitalista da Federação Russa no período posterior (1992-2008).

Nosso argumento central é que a economia da Rússia atual, a despeito de quase uma década de crescimento a taxas elevadas a partir de 1999, da reconstrução parcial e do fortalecimento do Estado e do retorno de uma postura geopolítica mais assertiva a partir do primeiro governo Putin, se caracteriza por uma forte heterogeneidade estrutural que tem como implicação uma grande vulnerabilidade no que diz respeito a sua inserção externa, que se manifestou mais uma vez na crise mundial de 2008-2009.

A heterogeneidade estrutural russa vem de três elementos fundamentais, a saber: 1) a acentuada dependência de tecnologia estrangeira na indústria para fins civis; 2) a baixa produtividade agrícola e a correspondentes dificuldades em termos de segurança alimentar; 3) a alta disponibilidade e o baixo custo relativo de produção de petróleo e gás (e algumas outras matérias-primas).

Apesar das transformações drásticas ocorridas na sociedade e na economia russa, com as grandes e radicais mudanças nas instituições políticas e econômicas, na distribuição de poder e de renda e no desempenho da economia, esses elementos de heterogeneidade estrutural já estavam claramente presentes na União Soviética em meados dos anos 1970, e a fragilidade externa decorrente dessa heterogeneidade foi um elemento importante para a crise da economia soviética nos anos 1980, que se transformou em colapso a partir das reformas econômicas (e políticas) de Gorbachev.

A esses elementos estruturais se acrescentou, a partir de 1992, um quarto elemento muito importante que contribuiu para a vulnerabilidade externa da economia russa: a excessiva abertura financeira ex- terna. Esses quatro elementos são fundamentais para o entendimento da atual fragilidade externa da economia de um país continental, que é uma potência militar nuclear relativamente grande, diversifi- cada e industrializada, mas, ao mesmo tempo, muito dependente das exportações de petróleo e gás e fortemente afetada pelos movimentos dos fluxos de capitais internacionais de curto prazo.

Começaremos apresentando uma periodização dos diversos padrões de investimento e mudança estru- tural ao longo do período de 1950 a 2008, que tiveram resultados bastante diversos em termos de taxa de crescimento do produto. Utilizando esse esquema, a análise da economia de comando soviética no período de 1950 a 1991 será, por sua vez, divida em duas fases principais. Uma fase de rápido crescimento e grande mudança estrutural entre 1950 e 1974, que corresponde a um período de acumulação extensi- va de capital quase autárquica, e uma fase de redução substancial da taxa de crescimento e tendência à estagnação entre 1975 e 1991, que corresponde ao período de tendência à estagnação posterior ao esgotamento das amplas reservas de mão de obra e de recursos naturais a baixo custo da fase anterior. A rigor, essa fase pode ser dividida em duas etapas: uma de desaceleração do crescimento no período 1975-1984 e a fase de crise e posterior colapso causado pelas reformas da Perestroika (1985-1991). O estudo da eco- nomia capitalista da Federação Russa de 1992 até 2008 também está dividido em duas fases principais. Uma primeira fase de rápida e radical liberalização dos mercados e privatização dos ativos via “trata- mento de choque” e a consequentemente longa e profunda recessão que vai de 1992 a 1998, e a pos- terior fase de recuperação da economia e tentativa de reconstrução do Estado russo a partir de 1999.

Uma breve seção de observações finais conclui o capítulo, na qual levamos em conta o forte impacto da crise mundial do final de 2008 sobre a economia russa e a retomada posterior do crescimento.

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