Raízes Americanas da Ascensão da Ideologia de Direita no Brasil

A FSP de hoje publicou interessante artigo de Christian Schwartz sobre a violência anti-intelectual da classe média numa linha já explorada em artigo de Eliane Brum, publicado neste mesmo jornal. Ambos artigos discutem o triunfo da nova direita no país a partir do triunfo do ‘homem mediano’ (como se referiu Eliane ao eleitor do Bolsonaro), do ‘ignorante empoderado’ como classificou Christian aos valores anti-intelectuais da classe média brasileira atual. 
Como eu venho insistindo há um tempo, creio que o que veio se passando no país no plano das ideologias tem raízes com o que se passou nos EUA. Com efeito, como examinado por Thomas Frank (Pity the Billionares), Jesse Duke, um dos animadores do Tea Party (grupo que apoiado por bilionários conservadores liderou um movimento para a direita no partido republicano) argumentava que a América estava dividida em duas classes que nada tinha a ver com a renda ou a riqueza e apenas com a cultura; as pessoas comuns (cidadãos produtivos e pagadores de impostos) e os intelectuais esnobes (em geral professores ou funcionários públicos). Estes últimos eram os verdadeiros vilões pois desprezavam os valores da família e os valores do livre mercado, valores considerados essenciais ao homem comum.
O herói para esta visão utópica e mistificada do capitalismo americano, politicamente renovada em políticos como Paul Ryan e a plêiade de novos congressistas do Partido Republicano é o pequeno empresário (Reagan já havia dito, America is small business) que luta contra a união entre o big government, o big business e o big labor, aliança comummente referida como socialista. Mas a forma de combater as distorções do big business é eliminar o big goverment, reduzir os mecanismos de controle, desregular, reduzir impostos, etc. 
A versão brasileira anti-intelectual é muito semelhante, a do livre mercado se traduz aqui por privatização e abertura comercial, medidas consideradas necessárias para eliminar o socialismo (entendido aqui como lá como intervenção do estado na economia e transferências sociais) e reinventar a ideologia do capitalismo utópico numa sociedade oligárquica.

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