De fracasso em fracasso, até a vitória final

Há poucos dias o governo de Angola resolveu dar um basta a essa irresponsabilidade brasileira de ficar reiteradamente envolvendo o nome do seu país, das suas instituições e suas autoridades em alegações de corrupção, sem qualquer base factual. Angola liquidou antecipadamente todos os créditos de exportação que ainda estavam em aberto com o Brasil – havia operações que só venceriam em 2024[1] – encerrando a utilização do Memorando de Entendimento Brasil-Angola (MEBA).


O MEBA instituiu um engenhoso mecanismo de mitigação de risco de crédito, pelo qual Angola se comprometia a manter o equivalente a nove meses de parcelas vincendas dos financiamentos brasileiros à exportação em uma conta garantidora, abastecida pelos resultados da venda de até 20 mil barris de petróleo /dia pela petrolífera estatal SONANGOL. Assinado originalmente na década de 80, ainda durante o regime militar, o Memorando foi o elemento singularmente mais importante para explicar o crescimento sem precedentes no volume das exportações brasileiras para Angola durante esse período. 


Com a desativação desse mecanismo, o cenário mais provável é o de que esse petróleo, até então usado para garantir o pagamento de créditos brasileiros, será doravante alocado para respaldar compromissos financeiros com outros países, facilitando assim as exportações dos seus respectivos produtos e serviços para Angola, em detrimento das exportações do Brasil. 


Ironicamente, o caminho adotado pelo governo do país africano reconfirma de modo explícito a capacidade pagadora de Angola e a sua conhecida responsabilidade na quitação de seus compromissos financeiros externos.


Trata-se de mais uma perda grave e desnecessária imposta ao nosso país pela atuação de brasileiros irresponsáveis e despreparados, causando a reversão dos resultados de décadas de trabalho da nossa diplomacia e de nossas instituições públicas, ao longo de sucessivos governos. No cenário atual de baixa atividade econômica a nível mundial e de forte acirramento da concorrência internacional por mercados, não é possível prever quando e em que circunstâncias, essas perdas poderão vir a ser revertidas.

[1] http://www.economia.gov.br/area-de-imprensa/notas-a-imprensa/2019/12/copy_of_angola-antecipa-pagamento-do-saldo-devedor-com-o-governo-brasileiro

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