Análise e Perspectivas da Taxa de Juros no Brasil

Nos anos recentes, o Brasil ostentou um recorde de natureza no mínimo discutível: a maior taxa de juros real do mundo. A cada divulgação dos resultados das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) normalmente seguiam-se rodadas de protestos de entidades empresariais e de trabalhadores, em contraste com o apoio às posições do Banco Central do Brasil (BCB) por parte da imprensa especializada e de alguns acadêmicos e consultores. Tais manifestações mais agudas e específicas, entretanto, terminavam por se diluir rapidamente, em razão de certo sentimento de fatalismo que passou a incorporar o conservadorismo do BCB como algo quase inevitável, e, também, em virtude do bom desempenho global da economia nos últimos anos, nos quais a taxa de crescimento brasileira foi muito superior à média registrada desde o início dos anos 1980 até 2003. Além disso, foi registrado, nos últimos anos, um comportamento positivo em vários indicadores sociais. Assim, o incômodo de tal taxa recorde nunca foi capaz de abalar um aparente alto grau de consenso social em torno da condução da política monetária pelo BCB, que por sua vez estaria sujeita aos condicionantes do modelo de metas de inflação.

Apesar do valor elevado em termos internacionais, deve-se observar que a taxa de juros brasileira vem se reduzindo nos últimos anos, e está num patamar inferior àquela registrada durante o período entre 1994 e 1999 ou, grosso modo, durante a fase de utilização explícita de uma âncora cambial como instrumento de estabilização inflacionária.

Assim, o comportamento e, principalmente, as interpretações sobre o com- portamento das taxas de juros encerram, nos últimos anos, algumas contradições. Se, por um lado, há uma concordância generalizada quanto ao seu valor excessiva- mente elevado, por outro lado, tanto a política que a estabelece, ao menos no que se refere ao seu valor básico, quanto seu condutor principal, o BCB, parecem co- mandar um razoável consenso social e político. Ademais, não é claro por que uma economia há muito estável e com vários indicadores macroeconômicos dentro de um nível compatível com o de outros países tenha juros tão mais altos que as de- mais economias e por tanto tempo. Entretanto, não obstante juros tão elevados, a economia brasileira cresce a taxas mais elevadas que a média verificada desde os anos 1980, e a pergunta relevante a ser feita é se uma hipotética redução dos juros nominais e reais causaria ou não alguma perturbação significativa na economia.

Seria impossível tratar de forma extensiva todos esses pontos em um breve capítulo. Entretanto, parece útil tentar explicitar se existem mecanismos macroe- conômicos que estariam por trás destas aparentes contradições; examinar até que ponto seria possível conviver com uma taxa de juros básica mais “civilizada”; e discutir algumas consequências deste possível cenário.

Este capítulo se organiza de acordo com as seguintes seções. Na próxima seção, busca-se entender a verdadeira natureza do funcionamento do modelo de metas de inflação no Brasil, e, dentro deste, o papel exercido pela taxa de juros. Procura-se entender também se há uma razão lógica ou técnica para os juros brasileiros serem tão altos. Na terceira seção, tenta-se avaliar algumas situações e possibilidades que seriam abertas pela redução mais vigorosa da taxa de juros interna no novo cenário internacional pós-crise de 2008.

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